Sábado de manhã. Estou sozinha no apartamento. Fico
rolando na cama por mais tempo. É gostoso não ter horário para levantar. Depois
dessa semana o que eu mais precisava era a cama como minha única e exclusiva
companhia. Começo a pensar em Mauricio. Como ele mexe comigo. Tento lembrar dos
meus outros romances, mas nada se compara com o que eu sinto quando estou perto
dele. Calafrios na barriga, as mãos começam a suar, o coração dispara, a
respiração fica ofegante. Comecei a lembrar do meu ex-namorado da minha cidade
natal, Carlos Munhoz. Nós namoramos por quase um ano e terminamos depois que eu
vim estudar em Florianópolis. Nós até tínhamos prometido um para o outro que
quando eu voltasse nos casaríamos. Mas, o que eu sentia e ainda sinto por
Carlos nem se compara com os sentimentos que Mauricio desperta em mim. Só de pensar em
sua boca tão próxima da minha já sinto um frio na barriga. Por que por
Mauricio? Seria muito mais tranquilo eu me apaixonar pelo Fabio, que também é
lindo e muito gentil. E o pior é que esses sentimentos não poderão passar de
sentimentos e eles ficarão todos guardados somente para mim.
Procuro ao máximo afastar Mauricio dos meus pensamentos.
Me levanto. Tomo um banho demorado. Visto uma roupa leve e confortável e saio
para ir a padaria tomar meu café da manhã. Lembro que menti para Mauricio sobre
minha preferência a cerveja e começo a rir sozinha pela rua. Já são nove horas
da manhã e o sol brilha forte no céu. Depois de tomar café quero ir até a
livraria buscar os dois livros sobre psicologia que eu encomendei. A padaria
fica próximo ao meu prédio. Um espaço pequeno e simples, mas confortável e
prazeroso de se estar. Entro e cumprimento o padeiro.
- Bom dia senhor Adão! – Adão é um senhor de
aproximadamente cinqüenta anos que é dono da padaria e está sempre bem disposto
para atender seus clientes.
- Bom dia senhorita Cristina! O que vai ser pra hoje?
- Café com leite e torradas.
- Não há vi esta semana. Está tudo bem?
- Comecei a trabalhar e os horários estão corridos. –
Adão tratava seus clientes como se fossem da família. Talvez seja por isso que
sua padaria era sempre muito bem requisitada.
Sentei numa mesa no canto próximo da janela para poder
observar o movimento de pessoas. Adão trouxe meu pedido e comecei a saborear
meu café da manhã. Todo sábado fazia questão de tomar café na padaria pelo
prazer de saborear o café em outro ambiente. Minhas colegas de apartamento
nunca me acompanhavam, pois não conseguiam sair da cama antes das onze da
manhã. Distraída levei um susto quando
ouvi meu nome.
- Bom dia Cristina!
Meu susto foi maior ainda quando vi quem havia falado meu
nome. Mauricio Anton estava lindamente parado na minha frente. Eu estou
sonhando ou esse cara realmente é um colecionador ávido. Não desiste tão fácil.
- Posso sentar? – Ele apontou para a cadeira.
- O que você está fazendo aqui? – Está pergunta soou um
pouca idiota. Mas ele não costuma frequentar este lugar, nunca o vi aqui.
- Acho que vim fazer o mesmo que você, tomar café da
manhã. – Não era essa a resposta que eu estava esperando e o pior é que ele
sabe disso. Seu riso de divertimento me fez corar. Perguntei novamente:
- Você não costuma frequentar este lugar? – Foi mais uma
afirmação do que uma pergunta.
- Comecei a frequentar hoje. E me parece um lugar
agradável para começar uma manhã de sábado. – Ele apontou novamente para a
cadeira. – Posso sentar com você ou prefere que eu vá para outra mesa?
O mais sensato seria ele sentar em outra mesa. Manter
distância. Mas como resistir.
- Desde que você não estrague meu café da manhã. –
Respondo dando de ombros.
Mauricio sentou na minha frente e seus olhos estavam
devorando os meus. Dava para sentir a energia entre nós. Será que ele também sentia
a mesma coisa. Me pergunto porque ele não é uma cara normal, que paquera,
namora, que tem vontade de formar família e ter filhos. Seria tão simples, tão
fácil. Uma vida perfeita. Para minha infelicidade, nenhuma dessas atribuições
estão em seu currículo de vida.
- Sua impressão sobre mim realmente é péssima. – Ele
parecia estar lendo minha mente.
- Isso é você que está dizendo. – Retruco. Adão traz seu
café da manhã e põe na mesa.
- Pensei que preferia cerveja ao invés de café! –
Mauricio estava se referindo a minha mentira e eu não iria desmentir agora.
- Pela manhã prefiro café. – Dou um sorriso.
- É bom saber. Cervejas na sexta a noite e cafés no
sábado de manhã cabem em sua agenda. – Ele dá um gole demorado em seu café
esperando minha resposta. Seu olhar quer dizer alguma coisa, mas não consigo
decifrar o que é.
- Isto é uma
cobrança? – Perguntei fechando meu rosto. Quem ele pensa que é para querer
saber o que faço ou deixo de fazer.
- Não é uma cobrança. Apenas uma observação. Uma vez que
nas quartas o café no final da tarde não são de sua preferença. Agora tenho
outras opções.
- É impressão minha ou você está ressentido por eu não
ter aceito seu convite na quarta.
Ele não respondeu, apenas ficou me encarando enquanto comia
suas bolachas. Se não respondeu é porque eu estou certa. Ele está ressentido
por ter levado um não. Coisa que com certeza não acontecia com ele todos os
dias. Já que as mulheres caem sobre seus pés. E seu plano é me conquistar a
qualquer custo para não ficar com seu elo abalado. Quebro o silêncio tentando
uma conversa mais natural.
- Gostou do lugar?
- Hã! Aconchegante. Melhor do que qualquer lugar é a
companhia que temos.
- Você não desiste mesmo. – Reviro os olhos.
- Desisto do quê? – Ele dá de ombros fazendo de conta que
não estava entendo.
- De flertar comigo.
- E você gosta? – Sinto minhas bochechas ficarem
vermelhas. Meu cérebro novamente se evaporou e eu não encontro nenhuma resposta
plausível. Mauricio percebe meu embaraço e parece se divertir com a situação.
- Você já tem planos para hoje? – Mauricio parece mais
sério agora. Planos para hoje? Não havia pensado nada em especial.
- Estudar, assistir algum filme talvez. – Respondo. Minha
razão está gritando em meus ouvidos para eu dispensá-lo de uma vez. Mas todos
os meus outros sentidos querem o contrario.
- Podemos almoçar juntos e a tarde tenho um lugar bacana
para te mostrar. – Ele dá um meio sorriso que me deixa sem chão. A proposta é
tentadora. Almoçar com Mauricio Anton e passear juntos à tarde. É claro que eu
aceitaria se não soubesse suas verdadeiras intenções. E pior que isso, é que eu
sei que vou querer repetir os passeios e isso não vai acontecer. E eu vou
sofrer e ele vai continuar tocando sua vida. Eu sei que estou a beira de um
precipício e parte de mim quer se jogar.
- Desculpe! – Desvio o olhar. – Estou com conteúdos
pendentes da faculdade e preciso me concentrar nos estudos. Não vou poder
aceitar seu convite. – Não consigo encará-lo. Meu inconsciente aprova minha
atitude. Mantenha ele a distancia.
- Eu que peço desculpas. Mas vou insistir. – Mauricio
pega minha mão e meu coração gela. Ergo o olhar e encontro seus olhos me
encarando. Sua expressão séria me derrete por dentro. – Não acredito que você
não se permita se divertir um pouco.
Tiro a minha mão da sua e repito.
- Estou falando sério. Tenho muito o que estudar.
- Também estou falando sério. E sei ser muito insistente.
– Mauricio não tira os olhos de mim.
O que eu faço. Eu adoraria sair com Mauricio. Conhecê-lo
melhor. Mas, tenho medo de me machucar, de sofrer. Eu sei qual é o seu jogo e
suas regras não me agradam em nada. A menos que eu não permita que aconteça
nada além de um almoço. Aceitar almoçar com Mauricio não quer dizer que eu vou
ficar com ele. Eu vou precisar manter o foco para jogar esse jogo perigoso
demais. Mauricio está esperando minha resposta enquanto brigo com meus
pensamentos.
- Tudo bem. Aceito almoçar com você, mas, com uma
condição. – Digo olhando em olhos. – Eu não vou ficar com você. – Fico com as
bochechas vermelhas. Mauricio arregala os olhos. Ele está digerindo minha
resposta. Será que ele vai aceitar o combinado. E se aceitar será que vai
cumprir. Por fim ele diz dando um sorriso:
- Combinado.